Biodinâmica: a agricultura que mudou a relação com a terra.

A agricultura ecológica, orgânica ou biológica é um sistema de cultivo sustentável e equilibrado, ainda que nem sempre seja garantia de fertilidade do solo. Entretanto, a agricultura biodinâmica a qual iremos nos referir hoje nesse artigo, revolucionou por completo a relação do agricultor com sua terra, conectando-o com ela e ensinando-o a escutá-la.

Vella Terra. vinos biodinamicos.

Via Raventós I Blanc

Esta forma de produção, além de contemplar aspectos ecológicos, inclui em sua filosofia a melhora das condições de vida de seus praticantes, de tal forma que seu objetivo é conseguir a sustentabilidade integral do sistema de produção agrícola.

Como em outras formas de agricultura ecológica, evita-se o uso de fertilizantes, pesticidas e herbicidas industriais, sendo permitido somente o uso de cobre e enxofre em doses baixíssimas (2 ou 3 kg/h) e em casos extremos.

Via Raventos I Blanc

via raventos.com

A agricultura biodinâmica considera as fazendas como organismos complexos: trabalhando no equilíbrio de seu desenvolvimento integral e a interrelação dos solos, plantas e animais como um sistema de auto abastecimento, na medida do possível, sem intervenção externa. Se diferencia de outros tipos de agricultura ecológica no uso de preparados vegetais e minerais como aditivos de composto e no uso de um calendário de semeadura baseado no movimento dos astros.

Método de cultivo na biodinâmica:

Este método é considerado como o primeiro de agricultura ecológica europeia moderna, baseado nos princípios do filósofo austríaco Rudolf Steiner, para quem pediram ajuda em 1920 um grupo de agricultores de Koberwitz (Alemanha), alarmados pela perda de fertilidade da terra e o escasso valor nutritivo de suas colheitas.

Preparados biodinâmicos:

Steiner criou nove preparados diferentes para vivificar e fertilizar os solos, que são as bases da agricultura biodinâmica.

Enumerados de 500 a 508. Descreverei os dois primeiros que se utilizam para a preparação dos campos, os restantes são utilizados para fazer compostos.

  • 500: Nos inícios do outono se enchem os chifres da vaca (que tenha tido vários partos) com esterco sem palha, preferivelmente de vacas prenhas, de forma que não fiquem espaços de ar por dentro. Se deixa decompor durante o inverno e recuperar para seu uso na primavera seguinte.
  • 501: Quartzo moído fino estacionado no chifre da vaca. Não convém reutilizar os chifres deste preparo. Pode-se misturar com o 500, mas geralmente se o faz sozinho. A mistura é pulverizada à baixa pressão sobre o cultivo durante a temporada chuvosa, com a ideia de prevenir doenças fúngicas.

Via www.raventos.com

Como podem perceber, para Steiner era de vital importância utilizar nos preparados matéria orgânica de animais conectados com a fazenda e com o cosmos, daí a utilização de animais com chifres e preferencialmente fêmeas, já que possuem uma conexão mais forte.

O ponto mais importante deste enfoque é que os artesãos da agricultura biodinâmica creem que a terra, as plantas, os animais e o ser humano trabalham interconectados em um único organismo agrícola que, debates esotéricos à parte, prioriza o produto cuidado desde o começo até o fim, alcançando cotas qualitativas que nos fazem basear nossa relação com a terra cultivada sob estes parâmetros.

Granja Biodinámica Raventós I Blanc

Granja Biodinámica Raventós I Blanc

Nos anos noventa, começou-se a regular e gestar um selo denominado Deméter, que regula e distingue os produtos procedentes da agricultura biodinâmica. Garantindo que se cumpram os requisitos da normativa orgânica EU (significa o selo “orgânico”) e selo Deméter, cumprindo-se as “normas de produção” (compostos, uso de preparados, proibição de plantas geneticamente modificadas, etc.) e as “normas de elaboração” (não se permitem irradiação de produtos, aditivos, a fumigação e nenhum ingrediente geneticamente modificado), que estabelece tal selo, aplicando esses critérios através de todo o processo de produção.

Deméter era a deusa grega da agricultura, venerada também como “portadora das estações” e era a quem se ofereciam os primeiros frutos como agradecimento às férteis e novas colheitas.

Na atualidade, existem várias associações de agricultores biodinâmicos ao redor do mundo e também há as de vinicultores.

Vinicultura biodinâmica. Evolução da ecológica?

Acreditamos que sim; em relação à vinicultura e à produção do vinho. A agricultura biodinâmica supõe um avanço para a consciência do vinicultor que decide praticá-la, ainda que as normas sobre o uso de produtos de síntese na adega, é dizer, o vinho biodinâmico pode levar sulfitos (muitos não os contém e em outros falamos de 30 ou 40 mg/l, sendo muito raro encontrar um que supere os 70 mg/l) e podendo ser filtrado durante o processo de produção. Quando falamos de vinho biodinâmico, temos de levar em conta que não é apenas um tipo de vinho, mas também uma filosofia de vida em que se conjuga a ciência, o trabalho, e a auto sustentabilidade natural em uma plena conexão com a terra.

“Os vinhos procedentes da agricultura biodinâmica implicam um trabalho agrícola respeitoso e equilibrado com o meio ambiente e uma conexão com a natureza, mas nem sempre é sinônimo de vinho natural.”

Via Raventos.com

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Por sorte, por parte de vários agricultores, é crescente a tendência de combinar técnicas biodinâmicas em campo e naturais na adega em busca de uma maior qualidade. Muitos artesãos de vinho se somam a esta corrente com o objetivo de conectar com seus campos de cultivo e oferecer um produto cada vez mais saudável.

Agradecemos a Pepe Raventós pelas imagens de sua granja biodinâmica, um dos exemplos mais próximos que temos de equilíbrio e sustentabilidade.

Texto: AleDelfino