Visitamos a Eduard Pié Palomar de SICUS Terrers Mediterranis, um dos artesãos que sempre esteve presente em todas as edições de Vella Terra e representa muito bem esta nova geração de vinicultores conscientes catalães, que estão sendo conhecidos graças ao respeito que tem por sua terra e a qualidade de seus vinhos.
Nascido em 1985, no seio de uma família de agricultores e vinicultores, decide se formar como sommelier e depois iniciar seus estudos no campo na enologia e vinicultura.
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Por amor à videira e ao mar
No final de 2010, no povoado de Bonastre, no sul do Penedés, Eduard consegue criar seu próprio projeto motivado pela vontade de expressar em seus vinhos a proximidade mediterrânea e todo o seu terreno. Sob o nome de SICUS Terrers Mediterranis, estabelece sua base, onde tem a intenção de fazer vinhos muito variados com variedades autóctones da zona e que reflitam ao máximo possível todas as características de seu terreno, por essa razão acredita que as vinificações em ânfora são as que melhor podem ajudá-lo em sua filosofia.
Em 2011 já fazia quase completamente suas vinificações com esse método, depois de um período de testes em que ele se convenceu de qual era o caminho que deveria seguir. Caminhamos junto a ele, entre suas videiras na Fazenda La Caseta, onde notamos como tudo está em equilíbrio entre a vegetação espontânea de suas videiras e a fantástica paisagem que nos rodeia, tão somente 6 km do mar e com o sólido* do Garraf que nos protege. Aqui encontramos uma grande influência mediterrânea: na composição do terreno predomina o solo calcário e com escassa matéria orgânica, tudo se cultiva com fertilizantes próprios e trabalhando o mínimo possível em algumas videiras e em momentos certos do ano.
Nos explica como desde seus inícios, nunca usa nenhum tipo de fertilizante, pesticida ou herbicida, desta maneira conseguindo que a vinha cresça forte, sã e em competição com o resto das vegetações autóctones, conseguindo assim pencas mais concentradas e puras.
Tudo se recolhe manualmente em caixas pequenas à primeira hora da manhã. Graças a essa qualidade na matéria prima, um vinicultor artesão pode-se permitir intervir o menos possível em sua terra: o mesmo se passa em suas vinificações. Afinal de contas, a terra e seus micro-organismos são seres vivos e se se respeitam, oferecerão o melhor de si mesmos.
Ao passar ao lado de sua Malvasia de Sitges, ainda que seja uma variedade que oferece pouco rendimento, se nota em Eduard um particular carinho para com ela, sem dúvidas a grande protagonista desta zona do mediterrâneo. Engarrafa menos de 2000 unidades por ano dessa variedade: a fermentação alcóolica se faz em ânfora de argila, seguido de cinco meses de envelhecimento em suas borras em depósito de aço inoxidável.
“SONS”: Quando o vinho se gesta onde nasce sua uva
Chegamos à vinha de Xarello e nos mostra que no meio das fileiras estão enterradas ânforas de argila de uns 200 l de capacidade; uma maneira de trabalhar pioneira na Catalunha, pois muito poucos produtores vinificam dessa forma na Península Ibérica. Entretanto, em territórios com muita tradição e artesanato vinícola, como Georgia, essa é uma prática muito comum.
Na mesma manhã da colheita se separam as uvas dos galhos manualmente e a introduzem no interior das ânforas; se deixa que a fermentação tire espontaneamente com suas levaduras indígenas e se permite macerar em infusão com as peles durante três ou quatro meses.
Se vinificam com esse método as variedades Monastrel, Garrut, Cartoixa Vermella, Malvasia de Sitges e Sumoll. Na realidade conta com 25 ânforas enterradas entre suas videiras: esta é a linha “Sons” de SICUS.
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Com esse método, Eduard quer que suas uvas, depois de serem colhidas, não abandonem seu lugar de origem. Quer transmitir toda a energia, paz e calor de sua terra. Este não é um método muito comum nem na Catalunha e nem na Espanha, porém em algumas zonas vinícolas, como por exemplo no extremo sul da Sicília ou na Georgia, nunca deixaram de trabalhar dessa maneira.
Seguimos nosso caminho. Enquanto nos aproximamos de La Caseta, onde degustaremos seus vinhos, nos confessa que seu próximo objetivo é aproximar a bodega de suas videiras para poder ter um maior controle e assim criar um maior dinamismo, necessário entre fazenda, vinha e artesão.
Degustando sem pressa em “La Caseta”
Eduard nos faz degustar quase toda a totalidade de seus vinhos, foi realmente um prazer poder distinguir junto a ele como as mesmas variedades podem ter uma expressão diferente se vinificadas em ânforas enterradas ou em ânforas em bodega de diversos tamanhos. Os vinhos estão ligeiramente protegidos com uma dose mínima de SO2 (dióxido de enxofre/anidrido sulforoso): não mais de 30 mg/l e antes de serem engarrafados. Se deve usar esse produto em mínimas doses (o que chamamos de mínima intervenção) e o ideal é que se faça depois o vinho se criou como tal (como faz Eduard) e nada recomendável quando o vinho ainda está em processo de fermentação como se faz geralmente.
Uma das grandes características que todos os vinhos de SICUS possuem é sua boa acidez, sinônimo de sanidade e longa vida, seguramente causada também pelo gosto de Eduard, que prefere uma uva que não chegue ao seu máximo amadurecimento.
Vinhos que, para degustá-los em seu esplendor, provavelmente necessitem de um período de envelhecimento na garrafa, ainda que provemos na maioria das vezes vinhos de jovens vinhas, todas as variedades expressavam fortemente suas características frutais e vegetais; demonstração de que com uma agricultura sã e vinificações coerentes, uma mínima dose de sulfurosa não influencia a qualidade organoléptica de um vinho.
De toda a coleção de SICUS destacamos:
Cartoxa Marí: Por ser junto a Malvasia de Sitges uma das protagonistas da zona, uma completamente diferente da outra: a Cartoxa se reconhece por sua nota temperada e profunda, e a Malvasia por esse fantástico equilíbrio entre notas vegetais e cítricas ao mesmo tempo. Eduard é um dos poucos vinicultores a aventurar-se como vinificações a seco com essa difícil e atraente variedade que também está na linha “Sons”. Cartoxa Marí é um vinho de cor dourada com reflexos acobreados. De aroma cítrico e temperado, um “rosé” com um final fresco e persistente.
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Sons Cartoxa: É provavelmente uma das joias mais apreciadas de Sicus, com uma produção de 250 garrafas. É realmente uma sorte poder compartilhar com ele esse vinho; a uva uma vez colhida se retira do galho na mesma videira e se introduz nas ânforas de argila enterradas no meio das fileiras. A fermentação se inicia espontaneamente com leveduras autóctones e se deixa macerar com a pele durante dez dias. Posteriormente esmaga-se ela e volta a introduzi-la na ânfora até terminar de fermentar. Durante o correr de cinco meses o vinho repousa na vinha dentro da mesma ânfora. No mês de maio, com a entrada da primavera, pode-se começar a degustar em toda a sua magnitude.
Apresenta uma cor amarelo palha e matizes dourados. Fresco e profundo com notas de ervas campeiras e fruta branca madura. Graças a seu amadurecimento nas peles, nos presenteia um tanino ligeiramente secante dado com certeza por sua juventude.
Garrut: É a demonstração de que também os vinhos com maturações não particularmente largas podem identificar e expressar um território e ser considerados como vinhos de “guarda”.
A linha “Sons” de Garrut é realmente muito artesanal: graças a seus taninos domesticados na ânfora enterrada, presentearão a esse jovem vinicultor muitas satisfações nos anos que virão.
Entrada na área cálida e mediterrânea, cerejas e notas especiais de pimenta verde se confundem em um passo largo e persistente.
A Terra e Eduard
Sem dúvida, graças a Eduard, esta volta a ser uma zona vinícola conhecida na Catalunha e onde colocamos singular atenção pelo destacado número de vinhas artesanais e naturais “in crescendo”. Por fim, olhamos para o futuro, depois de anos de esquecimento, com vinhas conscientes e suas vinificações tão genuínas, inspiradas em tradição ano após ano, que nos enchem de esperança de que tudo mudará para melhor.